PRIMEIRAS IMPRESSÕES: DESTRUCTION - Birth of Malice (2025)
Por Daniel Aghehost
Publicado em 11/04/2025 11:09
Resenhas

DESTRUCTION  - Birth of Malice

(Shinigami Records - Clique aqui para adquirir)

 

 

PRIMEIRAS IMPRESSÕES

Poucas bandas sobrevivem ao tempo com a mesma fúria que as viu nascer. E menos ainda são capazes de, após quatro décadas de estrada, lançar um álbum que não apenas reafirma sua relevância como injeta novo sangue em suas veias criativas. “Birth of Malice”, o décimo sexto e mais recente petardo da DESTRUCTION, é exatamente isso: um renascimento sonoro de proporções brutais, um grito de guerra que coloca a lendária banda teutônica novamente no centro da arena do thrash metal mundial. 

Desde o início da audição, percebe-se que há algo diferente aqui. A introdução homônima traz uma ambientação soturna, com guitarras acústicas que evocam tensão e preparam o terreno para a explosão que vem em seguida. E quando "Destruction" – sim, finalmente uma faixa que carrega o nome da banda após 40 anos – entra com tudo, é como se o passado e o presente colidissem com violência. Os riffs são velozes e cortantes, o trabalho de bateria de Randy Black é preciso como um relógio suíço em fúria, e Schmier soa mais raivoso e carismático do que nunca. A canção é um compêndio de tudo que o thrash pode oferecer: velocidade, melodia, técnica e agressividade em doses mortais.

Na sequência, "No Kings – No Masters" carrega o ouvinte numa descarga elétrica de protesto e velocidade. A influência das bandas da Bay Area se faz presente aqui, com guitarras angulares e solos milimetricamente insanos. É uma faixa que mostra que a DESTRUCTION não está apenas revivendo seus tempos áureos, mas absorvendo o que há de mais potente no thrash moderno sem perder sua essência teutônica. Sem dúvidas, uma das mais empolgantes do disco.

“Cyber Warfare” é outro ponto alto. A faixa incorpora elementos que remetem ao power metal, com riffs que beiram o melódico e uma construção rítmica que destila dinamismo. Lembra um cruzamento improvável entre PRIMAL FEAR e CORONER, com uma pegada futurista que dialoga diretamente com a proposta lírica da música. O refrão é direto, grudento, e o duelo de solos entre Martin Furia e Damir Eskic atinge níveis quase épicos, como se os dois guitarristas competissem em uma arena elétrica por supremacia técnica.

Na sequência, "A.N.G.S.T." muda completamente o tom. Com um andamento mais cadenciado, pesado e quase grooveado, a faixa evoca uma tensão que se arrasta por cada compasso. É um dos momentos mais sombrios e densos do álbum, com riffs que soam como serras enferrujadas cortando concreto. A melodia da guitarra, ao fundo, lembra os tempos mais obscuros da NWOBHM, mas filtrados por uma lente moderna e agressiva. Aqui, a DESTRUCTION mostra aos incautos que é possível criar peso sem depender da velocidade.

"God of Gore" retoma o fôlego da destruição com um início visceral e uma linha vocal que se destaca pelo fraseado agressivo e preciso. Há uma sensação de caos organizado aqui, como se a banda flertasse com o death metal sem se afastar da espinha dorsal do thrash. A guitarra principal rasga os tímpanos como uma lâmina, e o refrão grita por ser berrado em uníssono por uma plateia enfurecida.“Scumbag Human Race” talvez seja a música mais debochada do disco – tanto no título (que pode ser traduzido como “Raça humana miserável”) quanto na execução. A faixa tem algo de JUDAS PRIEST em seu DNA: riffs incríveis, refrão de fácil assimilação e solos com forte apelo melódico. É uma canção que mistura raiva e sarcasmo, e que deve funcionar muito bem ao vivo com seus riffs cavalgados e sua bateria pulsante, em ritmo de marcha bélica.

“Evil Never Sleeps” desacelera o ritmo, mas não a intensidade. Com um mid-tempo que convida o ouvinte a bater cabeça constantemente, ela é marcada por um refrão marcante. Há aqui uma espécie de declaração de princípios: o mal, seja ele qual for, está sempre à espreita – e a DESTRUCTION está pronta para enfrentá-lo. A construção da faixa beira o heavy tradicional, mas a execução mantém-se firmemente ancorada no thrash.

Mas é com “Dealer of Death” que o disco alcança seu ápice. Uma verdadeira ode ao thrash metal, essa faixa combina velocidade, peso, crítica social (com uma letra que evoca os horrores do neonazismo moderno) e um refrão que soa como um grito de alerta. As guitarras aqui são como metralhadoras, e o trabalho de Black na bateria é simplesmente avassalador. A ponte e o pós-refrão são momentos de pura catarse. É impossível não se deixar levar pelo furor dessa canção.

Já “Greed” oferece um encerramento sombrio, quase ameaçador. O riff principal é uma parede de som, e a faixa traz uma atmosfera mais arrastada, tensa, como se a banda estivesse encerrando o disco com um aviso: a ganância é o combustível de toda a malícia. O solo aqui é particularmente expressivo, quase narrativo, e dá à música um senso de grandiosidade que funciona como epílogo desse massacre sonoro.

Por fim, a escolha de encerrar o álbum com um cover de "Fast As A Shark", clássico da ACCEPT, é ousada – e, para alguns, desnecessária. A verdade é que a música não adiciona muito ao conjunto, mas também não compromete. Schmier se sai bem ao evocar os vocais de Udo, e a banda recria com competência a velocidade alucinante do original, ainda que sem o mesmo impacto histórico. É mais um tributo do que uma reinvenção, e talvez funcione melhor como bônus do que como parte integral da obra.

 

 

 VEREDITO

“Birth of Malice” é um disco que surpreende em muitos níveis. Em termos de produção, é cristalino, potente e moderno, sem cair na armadilha da “supercompressão”. A performance dos músicos beira o impecável, com destaque absoluto para o entrosamento entre Furia e Eskic, que elevam o nível técnico das composições. Schmier, mesmo após décadas, continua sendo uma força da natureza – sua presença vocal ainda é uma assinatura inconfundível.

O mais impressionante, no entanto, é como o álbum consegue ser coeso sem ser repetitivo. Ele transita com naturalidade entre a fúria clássica do thrash, os ecos do heavy metal tradicional e elementos mais progressivos, construindo uma obra multifacetada, mas profundamente visceral. A banda, mesmo com apenas um membro original na formação, soa mais inspirada do que em muito tempo – talvez desde os primeiros anos do século XXI.

Em tempos de revival, onde muitas bandas veteranas se limitam a emular seus próprios clichês, a DESTRUCTION vai além. “Birth of Malice” não é apenas um bom disco de thrash: é uma afirmação artística de que a fúria, a criatividade e o compromisso com o metal extremo ainda queimam intensamente nos corações dos veteranos. Um disco que, ao mesmo tempo em que honra o passado, mira no futuro com punhos cerrados e olhos flamejantes. Uma obra obrigatória para quem ainda acredita que o thrash é mais do que um estilo: é uma atitude, uma resistência – e, neste caso, um renascimento.

 

 

NOTA DO REDATOR

DESTRUCTION está oficialmente confirmada no festival BANGERS OPEN AIR, se apresentando no dia 4 de maio.

Garanta já seu ingresso e prestigie uma das maiores bandas que o thrash metal mundial já produziu. Sem falar que provavelmente o set-list contará com várias faixas de "Birth of Malice", o que será uma honra aos presentes

 

9.3/10

 

(Daniel Aghehost)

 

 

TRACK LIST

1. Birth of Malice

2. Destruction

3. Cyber Warfare

4. No Kings - No Masters

5. Scumbag Human Race

6. God of Gore

7. A.N.G.S.T.

8. Dealer of Death

9. Evil Never Sleeps

10. Chains of Sorrow

11. Greed

12. Fast as a Shark (Accept cover)

 

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